Tento visualizar mentalmente, mas o cansaço não permite. É isto. Ou será algo parecido? Mas certamente que a ideia é esta. Está lá toda. O PSD nacional fez uns outdoors, que certamente os leitores já os viram na rua, que diz algo como isto: "no meio de nada para lado nenhum", querendo significar a falta de rumo deste executivo. Não sei se a mensagem é eficiente, não sei sequer se passa para os cidadãos, sei sim que se eu fosse um dos administradores do consórcio do novíssimo Metro Sul do Tejo estaria seguramente muito incomodado com a mensagem porque mesmo todos sabendo que a mensagem não se destina a esse meio de transporte, nem a esse percurso, diria que se tivessem pago à melhor agência do mundo de publicidade, jamais elas diriam algo tão realista.
A quantas pessoas servirá realmente aquele troço agora inaugurado? A esses privilegiados pergunto: não prefeririam que lhes alugássemos uma limusina para fazerem esse percurso, porque sendo tão poucos e a obra tendo custado tanto dinheiro, certamente que sairia, ainda assim, mais barato ao erário público.
E, no fundo, é isto que incomoda o bom do cidadão. Aquele a quem as notícias aterradoras chegam diariamente. Ele é o facto de termos a maior quebra do poder de compra dos últimos 22 anos. Ele é a maior taxa de desemprego dos últimos não sei quantos anos (segundo o critério mais fiável do INE e não o apontado pelo IEFP que seguramente está correcto mas não se refere ao desemprego real, mas sim às anulações administrativas). Ele é a maior incidência fiscal de sempre. Eles são impostos novos (até para pescar, meus amigos, agora se paga, qualquer dia vamos na rua a caminhar, ou praticando o aconselhável jogging e lá teremos o Sócrates à perna cobrando-nos um qualquer novo imposto). Ele é ainda a terceira (já com os novos aderentes) pior taxa de crescimento da União Europeia. Ele é o Tribunal de Contas a reafirmar que o Governo contratou assessores em excesso, lesando o estado, e afirmando-o em segunda via, já depois de o mesmo governo ter contestado os primeiros números avançados, e perguntamo-nos – então, tantos esforços é para isto?
O que está em causa não é o rigor orçamental, não é uma maior justiça e equidade da máquina fiscal, não é aparecerem impostos novos ou termos impostos que quase “assassinam” algumas actividades como seja a automóvel onde o cidadão para comprar um automóvel paga quase mais de impostos do que pelo automóvel em singelo, mas sim a aplicação do nosso dinheiro. Sim, nosso. Todos nós contribuímos, mas depois não temos sequer uma palavra a dizer.
Depois não compreendemos porquê que o Sistema Nacional de Saúde não contempla a nova vacina contra o cancro do colo do útero. Cada mulher que morrer com um cancro no colo do útero, por não ter tido meios de tomar a vacina será uma vida que o estado está a desperdiçar, e a troco de quê? Se calhar da indemnização monstruosa que vão dar à concessionária do Metro Sul do Tejo pelo atraso no início da circulação de mais de 2 anos. Ou esse dinheiro irá para o TGV? Um país que fecha urgências, hospitais, SAP´s, escolas, por não ter dinheiro, ou supostamente por estas apresentarem resultados líquidos negativos, tentando com essa medida racionalizar meios, mas esquecendo a função de estado social de direito, de Estado gerador de emprego, de corrector das assimetrias, esse mesmo estado já tem dinheiro para se aventurar no TGV?
É tudo uma questão de opção, meus amigos. Se qualquer um de vocês puder ter uma vivenda, com uma piscina, ar livre, espaço para os vossos filhos crescerem saudáveis certamente que não viverá num minúsculo apartamento, rodeado de prédios, respirando o ar da cidade e, com uma quase exclusiva actividade a televisão. Se com as suas economias puder mudar desse minúsculo apartamento, mas tiver de optar entre a tal vivenda, mas sem dinheiro para o resto, como sejam, a educação do filho, saúde, alimentação rica e saudável ou mudar-se para um apartamento ligeiramente maior e melhor, contudo sem piscina, mas com o resto dos requisitos, o que prefere o leitor?
Pois bem, o Estado prefere, com o nosso dinheiro, ir para a vivenda (TGV e OTA) e passar fome. São opções, que temos de respeitar, mas das quais não devemos nunca deixar de as denunciar, porque em vez do TGV, Portugal neste momento teria outras opções estratégicas, suficientes e mais baratas (sabem quantos países da Europa têm o TGV? Procurem a resposta a esta pergunta e talvez se surpreendam), assim como tem melhores opções técnicas e de custo relativamente à OTA, mas inexplicavelmente está-se a comportar como o tal “pobretanas” que mal tem dinheiro para comer, mas que compra a tal vivenda só para a exibir a terceiros. Por isso digo: Não Sejamos OTArios. À OTA devemos dizer não!
Uma última nota: tenho a certeza que quando passarem pelo tal cartaz do PSD todos que leram este artigo até ao fim irão tentar confirmar se a mensagem era a mesma do título deste artigo, pelo que, mesmo que não seja, o meu objectivo estará plenamente conseguido: repararem no outdoor e pensarem na sua mensagem. Desculpem-me a malandrice.
Paulo Edson Cunha in "Setúbal na Rede" - 16-05-2007
10 comentários:
Sabes uma coisa? Está espectaculat.
Aguardo o próximo ...
F.O.
A Revolta das Laranjas!? Para quando aqui no Seixal? Com um município tão mal gerido como é que a revolta não se concretiza? É sabido que a câmara ou CDU, que são basicamente a mesma coisa, controla e é especialista em propaganda, mas é de recordar que a abstenção é altíssima e que de certeza não são simpatizantes da CDU que ficam em casa. Por isso pergunto: nas campanhas de sensibilização da população “estamos” a apostar nessas pessoas que de certeza que não se revêem na CDU? Penso que não, para isso basta ver a última campanha autárquica em que os outdoors eram, enfim... podiam ser melhores! Muitas vezes vai-se atrás daquilo que a câmara/CDU diz e faz e tenta-se combater isso, mas penso que o caminho não deve ser esse, “devemos” mostrar porque somos melhores e diferentes e que temos sobretudo ideias que poderão tornar o Seixal num local excelente para vivermos. Mas para isso temos de mostrar as nossas ideias e convencer as pessoas de que não são mais uns que vêm, com uma conversa interessante só para caçar votos e que depois vão ser iguais aos outros....O que o Luís Felipe Menezes fez em Gaia é para mim um exemplo do que “nós” PSD podemos seguir aqui na margem sul, apenas temos de encontrar o caminho certo para ir “buscar” os abstencionistas e convencê-los que somos a solução.
Ao longo do texto usei “” uma vez que apenas sou apenas simpatizante do PSD.
antonio_sl73@hotmail.com
Concordando com grande parte do artigo e sendo o seu autor membro do PSD, não posso deixar de perguntar:
1- Não acha que o seu Partido tem responsabilidades tanto no estado do país bem como em muitos maus investimentos?
2- Será que a linha do governo do PS é assim ão distinta da linha que o seu partido seguiu enquanto foi governo?
Parece-me que não basta falar de problemas. As sugestões e os caminhos a seguir na sua resolução devem ser eficazes e para isso temos de mudar muita coisa e não só no PS.
Desculpe lá o comentário, mas se olhar para o cartaz do PSD verá que o caminho seguido já se iniciou antes de Sócrates, é pena e não é malandrice.
Militante do Partido Comunista Português
Caros Nuno Cavaco e António,
em virtude de estar a trabalhar de momento, nao quis deixar de publicar o vosso post, mas reservo a resposta para mais logo à noite. Por agora apenas agradeço os comentários.
Conforme prometido, venho responder às questões amavelmente colocadas:
Caro António, a revolta das laranjas já começou. Nós e os laranjinhas estamos a importunar seriamente a Câmara, fazendo oposição onde entendemos que é justo fazê-lo. Quer exemplos? o plano de reconversão da siderurgia, onde continuamos a entender que a questão ambiental e do estudo de impacto populacional não está salvaguardado, a questão das taxas de efluentes domésticos e indústriais, o contrato milionário do novo edificio da câmara, o laxismo da câmara na questão do MST, ontem mesmo estive, junto como o deputado Eng.º Luís Rodrigues, o vereador do psd de almada, Dr. Pedro Roque, e os presidentes da jsd distrital, Nuno Matias, e do seixal, Miguel Martins numa reunião na escola secundária Moinho de Maré que vai encerrar e onde se colocam muitas questões por resolver. Temos é o problema de passar a mensagem, com o Boletim Municipal vedado aos partidos da oposição, restam-nos estes blogues, artigos de opinião e acções de rua (o que vamos reforçar agora). Como sabem agora até nos queriam retirar ilicitamente um outdoor, mas reagimos e a Comissão Nacional de Eleições deu-nos razão!
A nossa última campanha? embora seja solidário com os meus pares, apenas lhe posso dizer que ainda não era o responsável pela secção, pelo que não é correcto responder sobre esse período.
Ao Nuno Cavaco, reconheço-lhe alguma razão na crítica, embora fique feliz por me reconhecer razão em quase todo o texto.
No entanto posso esclarecê-lo que o PSD tem sido o único partido que tem apresentado moções na Assembleia Municipal do seixal sobre questões que dizem respeito ao nosso concelho, não se limitando a apresentar moções a que eu chamo de "mero folclore político", mas que em nada resolvem os problemas das pessoas.
Temos uma estratégia que passa por, primeiro apontar os defeitos da gestão camarária do seu partido e do governo socialista e, depois, quando a mensagem passar, apresentar as nossas alternativas (no fundo tornar público todo o trabalho que está a ser realizado) .
Sim acho que o meu partido tem algumas responsabilidades, mas por isso mesmo o povo retirou-lhe a governação do País. Quem tem de ser julgado neste momento é o PS, NO País e a CDU no Seixal.
Muita coisa nos distingue do PS. Não apenas ideologicamente. A seu tempo responder-lhe-ei ainda mais sobre este assunto.
Obrigado.
Caro Paulo aguardo então mais troca de ideias porque gostei da forma como me respondeu.
Um abraço
Caro Paulo,
concordo com a sua resposta e sobretudo quando afirma "Temos é o problema de passar a mensagem, com o Boletim Municipal vedado aos partidos da oposição, ...." É a solução para este problema que tem que ser encontrada, porque tirando a informação que circula nos blogues só consigo ter acesso, de uma forma rápida e simples, através dos blogues, mas o problema é que a grande maioria da população não lê blogues!
Em relação aos exemplos que me deu da vossa acção fiquei bastante satisfeito, mas foi preciso vir a este blog para ter acesso a esta informação. A população em geral será que sabe? Penso que não. Desculpe estar a insistir nesta questão da mensagem, mas se ela não passa não à “revolução”, tudo vai continuar na mesma porque a câmara actual é muito boa e eficaz na propaganda.
Em relação à JSD do Seixal está de parabéns e espero que mantenha a dinâmica dos últimos tempos, que continue irreverente e a importunar. Estou à espera do pedido de desculpas do Sr. Presidente Alfredo!
Cumprimentos
Nuno Cavaco, tentarei demonstrar num futuro próximo o que nos distingue do PS, mas também o que nos aproxima, e uma das coisas que nos aproxima é a possibilidade de fazermos um trabalho comum de denúncias da insastifação dos munícipes. Por esse motivo desafiei, em plena Assembleia Municipal todos os partidos da oposição a aceitarem o nosso repto de fazermos um estudo sobre o grau de satisfação dos munícipes do Seixal, o qual foi prontamente aceite pelo PS e o B.E. ficou de dar uma resposta. Agora estamos a preparar esse trabalho para que, quando aparecer, seja suficientemente credível e inatacável tecnicamente.
Ao António, com esta questão, no fundo lhe digo que esta é mais uma forma encontrada de aferirmos as verdadeiras necessidades dos nossos munícipes, para que encontremos alternativas credíveis junto dos mesmos.
Por outro lado, repare que as minhas opiniões aqui expressas não saem apenas neste blogue, pois são quase todos textos que eu previamente publico quer no "jornal do Seixal", quer no "Setúbal na Rede", como é precisamente este post, ou por exemplo "O Artolas" (o primeiro post deste blogue).
Claro que a mensagem dificilmente passa. Claro que a abstenção é muita e isso joga contra nós. Na descodificação da fórmula está a chave do êxito. Penso que nós estamos A COMEÇAR a trilhar o caminho certo. Este Blogue é um dos passos. Já pedi, inclusive, à pessoa que me dá apoio técnico no blogue que providencie um espaço para exibir todas as moções apresentadas pelo PSD na Assembleia Municipal, e em algumas de Freguesia, para que todos tenham acesso a esses documentos.
Acho a sua crítica muito construtiva. Obrigado.
O cartaz não diz propriamente ''No meio de nada para lado nenhum'' mas sim '' a meio caminho de lado nenhum'' algo que achei bastante retratador da actualidade nacional. Não creio que seja pertinente apontar o dedo a fulanos e cicranos já que isso faz lembrar o sacudir a água do nosso capote para cima do dos outros ou algo que me faz lembrar a infância que é colocar as culpas em cima dos outros. Uma metodologia para o desenvolvimento do país é o investimento por parte do estado nas obras públicas, mas a que custo irá isto ser efectuado? A viagem no TGV de Porto-Lisboa, segundo o que li no Expresso seria na ordem dos 40 euros, quantos de nós portugueses de classe média teriamos a possibilidade de pagar este valor, um investimento realizado para a classe média - alta? Pago por todos nós. O mesmo faz lembrar quando se refere ás autoestradas digamos A25 Aveiro Vilar Formoso, uma das veias mais importantes da entrada dos transportes internacionais e de referir também que uma percentagem muito elevada de turistas espanhois utilizam esta via para chegar ao nosso país, porque vão os cidadãos que não usam esta infra-estrutura pagar por ela? Neste caso colocam-se portagens. Ou segundo alguns estudos o facto da OTA ficar localizada numa zona de preservação ambiental, esquecem-se que o desenvolvimento não deve ser realizado em detrimento do ambiente, basta ver o exemplo do desenvolvimento descontrolado das infra-estruturas do turismo na faixa costeira nacional. Já se ouviu falar em desenvolvimento sustentável? Fazem-se investimentos devido a interesses privados... Isto pode parecer a conversa de chácha de toda a gente... Mas e o futuro que nos querem deixar a nós??? Olham só para o próprio umbigo! Não me quero referir a partido nenhum especificamente. Somos um país em que a maioria da população tem a 4ª classe, não temos qualificação profissional, temos taxas de desertificação elevadas, indices de envelhecimento altos, taxas de actividade baixas. Mas vamos ter um TGV e outro aeroporto na OTA.Como referia nós somos o ''pobretanas'' que tem uma vivenda mas passa fome! Que vive das aparências. Que gastou milhões em estádios para se fazerem de lindinhos mas fechamos Urgências acelerando ainda mais a desertificação. Prioridades: Saúde e Educação??? Piada!
Desculpe colocar a minha visão negativista do nosso país no seu blog, ainda há muito a ser feito.
Olá Lyra,
obrigado pelo seu comentário.
Não tem de pedir desculpa, pelo contrário, este é um espaço onde se aceitam desabafos como o seu.
No fundo dizemos o mesmo de forma diferente. Sabe como se muda este estado de coisas que condenamos? devemos começar por nós próprios. Eu tento fazê-lo e ensinar os meus filhos.
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