quarta-feira, agosto 29, 2007

S.A.P. (Sem Atendimento permanente)


O texto que se segue, foi publicado no "Jornal do Seixal" do último sábado, dia 25 de Agosto:

«De repente e sem que nada o fizesse prever instalou-se o pânico naquela família suburbana de Miratejo, que fruto de um despedimento recente dos membros activos da família, da fábrica “Alcoa”, viviam dos escassos rendimentos provenientes do subsídio de desemprego, para pagarem todas as despesas, suas e dos seus dois filhos.
A febre do mais novo não baixava e depois de telefonarem para a linha “trim-trim”, foram encaminhados para o SAP. Até há 10 minutos atrás, na sua mente bastaria atravessarem a rua e em 5 minutos se punham nas instalações (muito boas, por sinal), do Centro de Saúdo do Moinho de Maré, mas de repente lembram-se quase simultaneamente que o Serviço de Atendimento Permanente que antes funcionava até à meia-noite, agora estava encerrado por decisão deste Governo que se diz socialista. O que fazer? Não tinham carro, nem dinheiro para o táxi, mesmo os transportes sairiam caríssimos, para além de não terem ligação entre si, de os horários não estarem compatibilizados e de não ser curial levar uma criança a arder em febre em transportes públicos. E outra decisão se impunha tomar: ir ao hospital “Garcia de Orta” ou ao Centro de Saúde da Amora, único Centro de Saúde com Serviço de Atendimento Permanente, sendo certo que se calhar até era melhor ir directamente ao Garcia de Orta, mas como na “Linha Trim-Trim” os tinham mandado primeiro ao centro de Saúde...o que fazer? Talvez ligar para os bombeiros ou para o Hospital, mas não se tratando de uma urgência, eles certamente não viriam, ou cobrariam pelo serviço(o custo das ambulâncias - 35€ das Paivas ao Garcia da Orta), o que ia dar ao mesmo do que ir de táxi.
Droga de vida pensaram com o suor a escorrer-lhes do rosto, face à impotência demonstrada. Ainda tiveram a clareza de espírito de pensarem que há pessoas em pior situação, desde idosos a viverem sozinhos, deficientes motores, etc, a quem esta decisão traria certamente mais e intransponíveis obstáculos para ultrapassar.
Para onde caminhamos, perguntaram em uníssono. Logo hoje que tinham acabado de ler que um doente diabético e cardíaco tinha estado uma hora à espera de uma ambulância em Faro e que as autoridades justificaram o atraso com o facto de Faro só ter duas ambulâncias. Em época de férias? Com os turistas (portugueses e estrangeiros)?
De que serve fazermos grandes promoções em investimentos megalómanos como o que se faz nas diversas áreas se depois não se cura de cuidar as condições mínimas e encerram-se escolas, hospitais e centros de saúde?
Esta é uma história ficcionada, mas pode muito bem ter ocorrido, ou vir a ocorrer, conforme farão justiça de reconhecer.
É sempre a mesma queixa? Pois é, mas os cidadãos têm o direito de se queixar sempre do mesmo, tanto mais que as queixas renovam-se a cada novo encerramento o que faz supor que nunca são ouvidas. Foi o que aconteceu com os recentes encerramentos dos S.A.P.´s do Moinho de Maré e do Seixal, mesmo sabendo que o pressuposto para o encerramento era a criação de todas as Unidades de Saúde Familiar previstas, o que ainda não está nem metade cumprido, logo a maioria dos nossos munícipes não tem ainda médico de família.Senhor Ministro, sei que num gesto, que espero não seja de pura propaganda política, se dignou ouvir o Sr. Presidente da Câmara Municipal do Seixal (como representante da população) e das Associações de Utentes da Saúde. Espero que tenha registado que está a tomar decisões para esta família, para a dos leitores, para todos nós, que somos cerca de 165.000 habitantes. Não se pode decidir contra as populações. Somos cidadãos activos, que pagamos impostos, que trabalhamos e que, muitos de nós (cruzes canhoto) até votaram no seu partido. Prove-nos que não partilha da imagem do deserto avançada pelo seu colega de governo e curiosamente nunca criticada por nenhum membro do Governo. Porque sou daqueles que acredita (cada vez menos) que este Governo até consegue fazer coisas positivas, emendar erros de palmatória, como parece que vai acontecer em relação à construção do aeroporto da OTA, estou certo que depois de ter recolhido os dados que lhe foram entregues na última reunião, vai analisá-los com toda a seriedade e vai revogar a sua decisão. Da minha parte apenas lhe prometo que se o fizer, na próxima crónica, cá estarei para lhe elogiar a decisão tomada.
»

domingo, agosto 19, 2007

Fruta...muita frutinha

Publicado na revista "O praticante", a 15 de Agosto, deixo-vos um artigo de opinião que "opina" sob os "apitos dourado" ou "encarnados", de uma forma descomprometida e ligeira.
Espero que gostem (já fiquei a saber pelo comentário no post anterior que a Natércia, que não conheço, não gosta dos meus posts referentes ao futebol. Ou será sobre os posts referentes ao Benfica?)

Nós, os amantes do desporto em geral e do futebol em particular (mas apenas os verdadeiros, porque os outros são só os verdadeiros amantes do seu clube, que querem que este ganhe a qualquer custo), daqueles que não faltam a um jogo da sua equipa, quando esta joga em casa e, altera toda a sua vida (jantares, reuniões, etc) de forma a ver sempre a sua equipa em directo e a cores, numa televisão perto de si, nós, como dizia, ficámos com uma terrível indigestão quando confirmamos tudo aquilo que se falava há anos. Afinal havia mesmo um sistema, havia mesmo um “Canal Caveira” (lembram-se do que disse Pedro Santana Lopes quando assumiu a presidência do Sporting?), havia mesmo resultados viciados, meninas (lembram-se da Famosa Paula), etc, etc.
E como ficamos nós que roemos as unhas, que ficámos de mau humor, que até chorámos, que pagámos bilhetes, que viajámos. Como ficamos agora? Vamos formar uma liga dos amantes do futebol que se sente ultrajada e pedir uma monstruosa indemnização aos culpados, por danos morais!!! Vamos?
Em parte foi bom saber, ou seja, foi bom saber que aquela amarga sensação com que sempre ficava quando os clubes rivais marcavam o sacro-santo golo no último minuto em fora de jogo claro ou através de um penalty inexistente, afinal não era mau perder meu. Era mesmo batota!! Que cada vez que o árbitro não via um penalty claríssimo a favor da nossa equipa, não era eu que estava a inventar, era o árbitro que ainda estava sob o efeito de vitamina ou calcário a mais da fruta que comera na noite anterior ou do leite que bebera.
Afinal há mesmo 20 processos que vão a julgamento, sob acusações muito sérias de corrupção desportiva (ou que a defesa vai requerer a instrução, para validar judicialmente a acusação formal do M.P.).
Mas ao mesmo tempo foi bom saber que há árbitros que gostam de fruta.
Nos tempos que correm, com as novas gerações a adoptarem a alimentação fast-food, que tanto mal faz à saudade e, sobretudo se não for uma alimentação complementada (ou essencialmente predominante) através de frutas, legumes, lacticínios. Pelo que é reconfortante saber que parte substancial da nossa arbitragem se alimenta de “fruta”. E fá-lo à noite, o que ainda é mais de enaltecer. Estamos muitos de nós a dormir e eles a comerem “fruta”. Parece que também gostam de leite. Uns preferem-no simples (branquinho), mas ficámos a saber que há quem goste com café, ou mesmo com muito café. Percebem-se agora as “magníficas” actuações de alguma da nossa arbitragem! Estão como que “dopados” com tanta fruta. Pudera!!! A fruta era variada, à escolha e até se podia repetir. Penso que até é um justo sinal de agradecimento aos dirigentes que se preocupam com a sua “saúde”.
Ficámos também a saber que havia (parece que ainda os há) quem de facto mereça o reconhecimento desses árbitros, pois, como disse, nos tempos que correm, haver dirigentes que ainda querem incutir uma alimentação saudável no seio da arbitragem, é uma medida de aplaudir.
Ficámos todos a saber que o trio de arbitragem liderado por Jacinto Paixão, era de todos o que comia mais fruta, daí o rapaz apresentar aquele ar saudável, próprio de quem come muita...fruta.
Para completar o ramalhete e como os dirigentes investiam tanto em alguns dos seus árbitros preferidos, é perfeitamente natural que os quisessem promover, pelo que se necessário fosse subiam a sua classificação ou desciam a dos outros, que para o efeito vai dar ao mesmo, alteravam os seus observadores e asseguravam a sua continuidade no seio da arbitragem, não fossem aparecer outros que não gostassem de fruta...pelo menos a que lhes era dada fora de casa.