quarta-feira, março 07, 2012

ROSTOS - A regar no Deserto?

A regar no Deserto? <br>
Por Pedro Tomás<br>
Seixal
A nossa região só conseguirá criar emprego e riqueza, com empresas viáveis, com empreendedorismo, com mais iniciativa, com mais criatividade e maior liberdade que impulsione os privados a investirem na economia e a gerarem bem-estar para eles e para a própria economia.

Os últimos números sobre a economia portuguesa provocam calafrios ao mais desatento dos cidadãos, na perspectiva de uma das mais acentuadas contracções económicas das últimas décadas. Esta é uma das mais visíveis consequências do período de ajustamento económico que vivemos, no seguimento da assinatura do memorando de entendimento com a troika. Não vou, contudo, tomar o caminho de culpar os últimos 20 anos de governação nacional ou local marcadas pela esquerda portuguesa. Antes reunamos para discutir as reformas necessárias, para fazer “greve” à greve e manifestar as nossas propostas para o crescimento do país.

Vários indicadores foram conhecendo uma trajectória acentuada descendente, levando-nos hoje a uma situação de urgência no capítulo da necessidade de crescimento económico. Se o facto de se ter registado uma diminuição de 17,0% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) empresarial em 2011 não provocou suores frios a ninguém, a verdade é que num país em que em que os sectores produtivos (na assumpção literal da palavra) são quase residuais, a tendência foi em mudar o rumo da economia através de gráficos em vez da realidade.

Historicamente vemos que embora se tenha assistido à Terceira Revolução Industrial na segunda metade do século XX, em 1970 Portugal apresentava uma estrutura económica quase igualmente tripartida pelos sectores Primário, Secundário e Terciário. No virar de milénio já mais de metade da actividade económica era do sector Terciário e o sector primário reduzia-se a menos de 5%. Os dez anos seguintes apenas acentuaram estas mudanças.

A questão central destas mudanças dever-se-ia ter focado nos ganhos para a economia e não na transição de indicadores de Portugal para os parâmetros de País Desenvolvido (acentuado Terciarismo). Uma das principais razões para se considerar que menos sector Primário significa maior desenvolvimento é o facto de tendencialmente as indústrias transformadoras e de serviços gerarem maior valor acrescentado à produção do que, por exemplo, a agricultura ou a pecuária. Ou seja, a nossa principal preocupação deveria ter sido em escolher, e investir em actividades que gerassem maior valor acrescentado e que o nosso país tivesse vantagens competitivas que nos permitisse ganhar uma posição sustentada – aquela a que chamamos Destruição Criativa.

As perspectivas para 2012 apontam para que o Investimento nas Actividades Imobiliárias, Transformadoras e Transportes e Armazenagens decresçam na ordem dos 30%. Apesar de o Imobiliário e a Construção durante décadas ter arrastado o crescimento económico do nosso país, actualmente esse é um modelo esgotado e o país terá de encontrar novas estratégias para conseguir crescer e criar riqueza.

A crise financeira mundial, tendo desvendado ao mundo as nossas fragilidades económicas criou também graves dificuldades de financiamento num país em que a estrutura económica está inequivocamente viciada em Crédito. Com taxas proibitivas no acesso ao capital financeiro, com um Estado refém da obrigação de austeridade e rigor e com os privados sem capacidade financeira temos um indicador de difusão do investimento a cair cerca de 15% desde 2010.

A escolha da estratégia de crescimento económico prender-se-á, hoje mais do que nunca, na tese da optimização do investimento tendo em conta os “recursos finitos” com que nos deparamos. É imperativo criar emprego, estimular a produção nacional de bens transaccionáveis para tornar o país competitivo nos mercados exteriores combatendo um défice comercial que tem baixado sobretudo devido à contracção das importações causada pela queda do poder de compra e expectativas dos agentes económicos.

Esta estratégia deve ser globalizante e transversal a todos os sectores da sociedade portuguesa, pois sem a complementaridade de todos os vectores será impossível atingir a homeostasia necessária para vencer! O sistema educativo deverá estar orientado para as necessidades futuras do país, formando activos para serem mais valias para si mesmos e para o crescimento do país, o sistema laboral tem de ser flexível ao ponto de não debilitar a capacidade das empresas em adaptar-se (conjugado com a responsabilidade social necessária para garantir o equilíbrio e o bem estar dos trabalhadores), o sector bancário terá de estar regulado para evitar os problemas do passado e garantir a sustentabilidade e capacidade de financiar o tecido empresarial nacional, terá de se garantir a sustentabilidade da Segurança Social e da Saúde assegurando que chegam a todos os cidadãos, temos de nos sentir seguros nas nossas ruas, temos de confiar no sistema judicial, tem de haver um sistema tributário justo e eficaz e tem de haver capacidade de atrair investimento, numa plataforma desburocratizada e estável no médio/longo prazo.

É insustentável continuar com mais de 14% de população desempregada, com jovens que têm no seu horizonte 34,7% de desemprego e um sistema de segurança social falido. Não estamos em condições de nos agarrarmos aos dogmas do passado e ao conforto das regras caducas, pois para além de insustentável financeiramente tornaram o país apático e sem capacidade de responder aos desafios de uma sociedade em que não só os benefícios são globais, mas também as ameaças.

A nossa região só conseguirá criar emprego e riqueza, com empresas viáveis, com empreendedorismo, com mais iniciativa, com mais criatividade e maior liberdade que impulsione os privados a investirem na economia e a gerarem bem-estar para eles e para a própria economia. Temos de centrar os recursos do Estado e do poder local onde eles devem ser aplicados e não limitar a iniciativa do sector privado naquilo que pode e deve fazer. É preciso mudar a estratégia e talvez, os próprios actores políticos, que durante décadas não conseguiram explorar o enorme potencial das nossas terras.

Quero ver as juntas de freguesias, as câmaras municipais, o governo de Portugal, os partidos, as empresas, os trabalhadores e os estudantes a trabalharem juntos em cima de uma estratégia que leve ao crescimento económico dos nossos concelhos e da nossa região. Quero poder viver, trabalhar e crescer num distrito que seja um exemplo do desenvolvimento económico.

A história mostra-nos que a mudança ocorre pela vocação, mas sobretudo da necessidade, quando há uma força exterior a nós. Essa necessidade é hoje indiscutível e a vocação está hoje personificada num discurso de um primeiro-ministro que antes de o ser, já era reformista. É necessário reformar transversalmente o país… e com sentido de urgência. Quando não há tempo para mudar mentalidades, mudam-se as regras!


Pedro Tomás

Comissão Política Regional JSD Setúbal


http://www.rostos.pt/inicio2.asp?cronica=111628&mostra=2

1 comentário:

Anónimo disse...

“Quando não há tempo para mudar mentalidades, mudam-se as regras!”
Como cidadão preocupa-me ouvir de um membro de um partido politico que irrestritamente adopte a regra enunciada pelo pragmatismo- o que no momento é util, convém ou satisfaz, é a verdade; a interpretação à base da lógica e das ideologias, deixa então de fazer sentido, e a previsibilidade dos desenvolvimentos torna-se nula, à luz daquilo que tivémos como capacidade de controlo e da projecção social da evolução com base num ideário e num programa.
Se for essa a realidade que se me presenta, estou perante a abolição da ideologia que deveria ser o primado da defesa de um político, pela legitimação da prática dos principios da justificação-a bondade dos fins justifica os meios, e do relativismo-impôr às divergências dos acontecimentos a sua legitimidade, pela admitida prova de terem acontecido.
Penso que enfrentamos hoje uma situação em que os cidadãos descrentes de todos os suportes ideológicos como mecanismos e instrumentos da sociedade da confiança, já mostram os sinais de uma próxima reclamação do direito natural; mas essas são expressões que a sociedade vai deixando como sinais das suas falas, o grau de não pensamento ideológico apenas pode ser fundado nos problemas imediatos da sobrevivência, com expressão na distância da palavra ao acto, onde cada vez mais se objectiva a predominância do discurso que institui um direito sangrento subordinado a uma justificação moral.
Por parte de um politico, a sua enunciação naqueles termos prognostica o exercicio coercivo de manipular e subjugar o produto objectivado no tempo, o tornar o sujeito passivo, ou susceptível de passificar, a consciência modelada”por engenheiros das almas”(Lenine) ; o renegar os ediários, enveredar por processos de desenvolvimento de previsibilidade indefinida.

Ah! O Estado de Direito! Para os que considerem este direito adquirido, esta conquista como perpétua, reza a história que o seu instrumento, o poder judicial, cego por natureza, garante essencial da sociedade da confiança, nunca resistiu a uma desregulamentação e indisciplina generalizada