segunda-feira, outubro 01, 2007

“Requiem por Marques Mendes”

Semana nova, vida nova no meu partido. Como sabem fui o mandatário concelhio do Dr. Marques Mendes, portanto, pese embora o candidato por mim apoiado tenha ganho no concelho do seixal, não menos verdade é que perdeu por larga margem no país.
Podemos aqui discutir as mil e uma razões que o levaram a perder umas eleições contra um adversário com o estatuto e o passado partidário do Dr. Luís Filipe Menezes, mas uma coisa é certa: os militantes do PSD “intuíram” aquilo que a população (e os militantes também são o “povo”) há muito tinha sentenciado: Com este (o Dr. Marques Mendes) não vamos lá.
Quem priva comigo sabe que eu também tinha essa opinião, embora tivesse a esperança que as pessoas fossem justas. Contradição? Então eu acho que o Dr. Marques Mendes a líder o PSD não ganharia ao PS do Eng.º Sócrates e apoiava-o? Sim, é verdade! E apoiava por duas ou três ordens de razões.
Em primeiro lugar estava a apoiá-lo nesta eleição, contra este candidato e, não contra um outro qualquer. Quer isto dizer que, nestas eleições, eu defendia, e continuo a defender, que entre os dois projectos políticos que ambos apresentavam para o país, o projecto do “Dr. Marques Mendes” apresentava-se mais sólido, mais coerente, mais sério do que o do seu adversário. E eu acredito que a seriedade, que o trabalho, que os valores, mais tarde ou mais cedo se sobrepõem à demagogia (e notem bem, a demagogia a que me refiro não é da do Dr. Menezes, mas sim à do Eng. Sócrates)
Em segundo lugar, por uma questão de justiça: O Dr. Mendes pegou no partido, com este completamente destroçado por uma derrota humilhante, numa situação ímpar e nunca vivida. Tinha tudo contra - o PSD acabara de perder umas eleições pela primeira vez para um PS maioritário, com um líder em estado de graça, com (na altura) as maiores câmaras do país e com o Presidente da Republica nas mãos do PS. Com o controlo de todas as instituições relevantes do país como sejam o Banco de Portugal, o Tribunal de Contas, todos os Institutos Públicos e, até o PGR eles quiseram mudar logo (embora o PM tenha desmentido, as escutas telefónicas ontem publicadas no semanário “SOL” revelam que, uma vez mais, o PM mentiu ao país).
Lembrem-se, façam a justiça de se lembrar, o PSD estava descredibilizado, o povo indicou-o expressamente ao votar como votou, maioritariamente no PS, e foi este “status quo” que o Dr. Mendes encontrou e inverteu. Foi ele que fez o partido ganhar as maiores Câmaras do país, naquela que foi (ainda hoje o Dr. Marcelo R. Sousa o disse) a maior vitória autárquica do partido, desde sempre. E conseguiu uma coisa inédita: eleger um Presidente de Direita, ainda que se desvalorize esse facto por se dar esse mérito, antes de mais ao próprio candidato (o Prof. Cavaco Silva). Esse facto ainda dificultou mais a sua gestão política, face ao “peso político” do novo PR, e à sua gestão séria e, contra-natura a que os portugueses não estão habituados, mas que condicionou grandemente a opinião pública: os portugueses interiorizaram que se o PR apoiava (mas na realidade não apoia politicamente, simplesmente o seu sentido de estado leva-o a querer estabilidade política acima de tudo) o governo, então é porque este estava a governar bem e, que a oposição poderia ser feita pelo próprio PR dispensando-se o PSD.
Mais uma vez, o seu sentido de Estado, não lhe permitiu politizar e explorar esta situação, colocando-se contra o PR como outros o fariam certamente, mas com prejuízos pessoais e políticos grandes para a sua imagem. Estava “encurralado”.
Em terceiro lugar, e eu já me referi a esse facto muitas vezes em crónicas anteriores”, a seriedade, coerência, anti-populismo, demonstrada vezes sem conta ao abdicar dos chamados “acusados” em processos criminais relacionados com a sua gestão camarária. Nesse aspecto o Dr. Marques Mendes deu um exemplo inestimável a Portugal, que eu temo que se perca. Que orgulho senti em ser social-democrata nessa hora! E fê-lo com a coragem própria dos homens com elevação moral: antes de saber se ganharia câmaras, se se afirmaria no partido, correu o risco de perder (como perdeu) Câmaras Municipais como Oeiras, Gondomar e mesmo Lisboa ( ainda com Carmona e não com Santana, embora aqui por outros motivos) arriscou-se a perder a Associação Nacional de Municípios para o PS. Imaginam a coragem que se precisa de ter para se tomar decisões como essa?
Mais tarde cometeu um erro político, que o levou a custar a eleição de sexta-feira, mas como também já disse anteriormente, foi um gesto ímpar na nossa democracia: permitiu-se perder a Câmara Municipal mais importante do País em nome dos valores que defendia. Sou dos que penso que se precipitou, mas respeito muito a sua decisão. E como social-democrata orgulho-me muito que um Presidente do meu partido a tome. Mesmo assim, deixo aqui uma pergunta que o futuro se encarregará de responder: “se se vierem a provar os graves crimes de que o Eng.º Carmona é acusado na sua gestão, como ficaria o líder do partido que o indicou, sabendo dessas acusações e continuando a suportá-lo politicamente? Não sejamos hipócritas: repararam que o processo estando ainda em fase de inquérito as notícias sobre o mesmo praticamente desapareceram dos jornais logo após a demissão do executivo PSD? Mas antes da demissão todos os dias surgiam desenvolvimentos. Acreditam que se o Dr. Mendes o tivesse mantido, que o processo não estaria diariamente nos jornais tornando o resto do mandato num autêntico inferno? Eu não!!!
Por fim, apenas para dizer ao Dr. Mendes o meu muito obrigado, por ter pegado no partido quando mais ninguém o quis fazer, de o ter credibilizado, de ter lutado praticamente sozinho, contra tudo e contra todos. Um bem-haja para si.
Nota Final:
Politicamente é um erro eu fazer a apologia de um derrotado, solidarizando-me com ele, e fazendo-o depois da derrota, período em que habitualmente os ratos fogem do navio, quando até sou o próprio a afirmar que nem sequer achava que com ele íamos lá, mas eu também me norteio por valores e gosto de os expressar publicamente.
Aposto com vocês que a partir de agora a Comunicação social vai começar a valorizar o papel do nosso ex-líder, atacando impiedosamente o novo líder eleito. Prepare-se Dr. Menezes, ainda hoje vi as célebres imagens em que saiu a chorar do congresso em Lisboa. E é só o inicio...
Ao Dr. Menezes desejo um grande mandato, recheado de grandes vitórias políticas. Sou um dos muitos portugueses expectantes com o seu mandato. Boa sorte!

11 comentários:

Anónimo disse...

Não escondo de ninguém que nunca vi o Dr. Marques Mendes como PM de Portugal, mas também não vejo o Dr. Filipe Menezes como tal. A verdade é que não posso estar mais de acordo com o seu post. A verdade é que foi o Dr. Marques Mendes que pegou no partido após as ultimas eleições legislativas e quando este se encontrava completamente desmoronado. Mas também digo que não vejo o Dr. Filipe Menezes com grande opositor do Eng. Sórates neste momento. Não escondo que votei Dr. Marques Mendes porque acredito mais no seu projecto político do que no do Dr. Filipe Menezes, tal qual votei no Dr. Santana Lopes para impedir uma maioria do PS.
Agora só posso desejar as maiores felicidades ao Dr. Marques Mendes na sua carreira profissional e agradecer-lhe o que ele fez pelo partido e também felicitar o Dr. Filipe Menezes pela sua vitoria e diz que fico a aguarda pelo seu programa e pela sua estratégia como líder do maior partido da oposição.
Mas não o vejo com bagagem para a luta que se aproxima.
Da Silva

Anónimo disse...

Ganhou as eleições autarquicas?
Não me faça rir.Então o senhor não sabe em que estado o Socrates encontrou o país?
Foi ele que começou as reformas que ainda hoje sentimos na pele,como muito bem sabe podia começa-las depois das autatquicas e estas estavam ganhas à partida.No entanto ele preferiu as reformas aos votos.Em 2009 cá estaremos para ver quemganha as autarquicas.

Anónimo disse...

Continue como presidente da secção e a CDU agradece... sem nexo algum o seu discurso...siga o exemplo da JSD...
Quanto não se está de corpo e alma numa coisa...

paula disse...

Olá Drº
Como sua leitora atenta, sempre que me é possivel,cá estou eu.Não está em causa a seriedade do Drº Marques Mendes que em minha opinião é inquestionável, está em causa a "falta de oposição", que a existir foi tão ténue que se tornou imperceptivel.Drº Menezes!? Não era o que eu desejava para o partido mas a verdade é que foi o que existiu. No PSD (e sempre em minha opinião de leiga em politica)faltam "pontas de lança", ou melhor, eles existem, mas estão a jogar mutissimo na rectaguarda.
P.J.

Anónimo disse...

Adorei este artigo.
Parabéns.

MC

Paulo Edson Cunha disse...

Agradeço os comentários colocados neste Blogue e, os muitos, enviados para o e-mail.
Respondo apenas ao/à anónimo(a), uma vez que os outros são genéricamente elogiosos, o que agradeço.
O Sr. anónimo certamente é tão bom a fazer análises políticas, quanto é a ler.Por isso fico descansado com o seu comentário.
Releia, p. favor, e diga-me onde eu não estava com convicção?
Eu digo apenas, que senti que a população (e os militantes) não estavam com o Dr. Marques Mnedes, o que infelizmente veio a ocorrer, mas todo o texto é uma homenagem à injustiça que se fez com aquele homem, que podia não ser carismático, não ter boa imprensa, não "penetrar" no eleitorado, mas era sério, tinha sentido de estado e ideias concretas para o país, mas não as conseguiu transmitir.

NOTA: VOU ESTAR AUSENTE DO PAÍS ATÉ DOMINGO, pelo que as respostas só serão publicadas antes dessa data, se no hotel houver net-point.

Anónimo disse...

Sr. Dr.
Há coisas que concordo e outras que discordo no texto que nos deixa. Mas algumas parecem-me excessivas (mais que sujeitas a concordância ou não). Por exemplo, escrever que Mendes venceu as presidenciais parece-me excessivo e sem suporte ou sustentação. Depois não explica e refere apenas as vozes contrárias, não sustentando a afirmação. Mas deixe lá.
Votei Menezes porque nele acredito. Menezes disse em Setúbal o seguinte: em 10 apoiantes de Mendes apenas 1 acreditaria na sua vitória. O Sr. Dr. com elegância referiu isso mesmo. Era um dos...E refere que o seu apoio (aliás, generalizado na secção ao que me apercebi)tinha antes de mais a ver com respeito pelas atitudes que no seu entender foram excelentes e carregadas de enorme coragem. Tenho certeza que todos nós sabemos que algumas decisões do Dr. Mendes foram repletas de grandeza e simbolismo. Mas entenda, o meu / nosso partido não pode viver pela gratidão. Deve manter a memória mas alimentar antes de mais a vitória porque se acreditamos na social democracia então lutaremos pela sua implementação. Nestas directas, só Menezes poderia dar-nos esse alento. Concorda comigo ? E entenda, era tempo do partido levar um abanão. Um abanão daqueles que fazem falta, que agitam, que desinstalam os que estão instalados. E são muitos. Foi um abanão no momento certo. Num momento em que as sondagens nos dão retorno do actual "estado de alma" do partido. E não era nada bom. As propostas de Menezes são giras. Quem esteve em Setúbal, como eu, disso se apercebeu. Acredito em Menezes e acredito que o partido não mais será o mesmo. Acabou aquela política de gabinete. Essa política que nem todos gostamos. Pessoalmente não gosto. Gosto de Menezes porque Menezes gosta do terreno.É o estilo que mais aprecio. Se esse estilo é "populista" ... pois seja. Mas a política não se faz no gabinete. No gabinete tomam-se decisões, no silêncio. Mas a política, essa, faz-se no barulho do terreno, junto das pessoas.
Findo. Não nos conhecemos ainda. Talvez um dia. Um abraço amigo deste militante e Colega.

Anónimo disse...

Só para dizer que achei muito bom este último comentário realizado pelo sr. Cavaco.
Concordo com o teor do mesmo, uma análise mt boa... mas atenção o resultado na secção foi uma vitória do Mendes por apenas seis votos (67-61)... apesar de...
Mas não poderia deixar de passar em claro a lucidez e qualiddae deste comentário.

CM

Paulo Edson Cunha disse...

Caro amigo Cavaco ( e colega, de profissão?),
De facto não nos conhecemos, que eu saiba, mas gostei muito do seu comentário. Crítico, construtivo e opinativo.
Claro que discordo de parte das suas afirmações, mas respeito-as, assim como fiquei satisfeito que tivesse respeitado as minhas.
Por esse motivo não lhe responderei integralmente (por ser opiniões suas), mas apenas lhe direi que quando afirmo que o Dr. Marques Mendes ganhou as eleições Presidenciais, digo-o apenas e só que o seu candidato, o candidato que ele apoiou e que o partido indicou foi o vencedor, nada mais. Tudo o resto que se infira daqui seria abusivo pensar, pois quem ganha as eleições presidenciais é o próprio candidato (mas isso certamente também sabe, por isso...) .
Eu limito-me a constatar um facto: ele apoiou um candidato da direita e pela primeira vez a direita venceu as eleições Presidenciais. É assim a política. - subjectiva, sujeita a variantes. Também poderia aqui dizer que se o Eng. Carmona não fosse candidato talvez... Mas isso seria fazer futurologia e a verdade dos factos é que o candidato apresentado pelo Dr. Marques Mendes em Lisboa (da segunda vez) levou uma copiosa derrota, que acabou por influenciar directamente o resultado destas directas.
Quanto ao resto da sua análise, no fundo já estávamos de acordo numa coisa (com o Dr. Mendes não íamos lá, mas repito, na minha opinião injustamente, razão por que o apoiei), com o Dr. Menezes, vamos a ver...
Eu estou firmemente expectatente e esparançado que sim. Para bem do meu partido, mas sobretudo para bem do País, que precisa de uma alternativa de poder forte, coerente, credível.
Obrigado pelo seu comentário e volte sempre.

Sobre o comentário seguinte, refere, "mas atenção o resultado na secção foi uma vitória do Mendes por apenas seis votos (67-61)... apesar de...", pode explicar o que quer dizer com apesar de..?

Anónimo disse...

Boa noite. Sem querer ocupar espaço indevido apenas gostaria de agradecer a simpatia e generosidade do Sr.(a) CM e do Sr. Dr. Paulo Edson Cunha.
A boa politica faz-se com elevação. No trato, na concordância e, mais raro, na discordância. Adiante no mesmo ideal.
Uma resposta à pergunta colocada: militante da secção e Colega na advocacia.
Um abraço amigo e continuação do excelente trabalho. Aqui estamos para o ler e comentar. Até breve,

Cavaco

Anónimo disse...

Para bom entendedor meia palavra basta...

MC