quarta-feira, julho 04, 2007

PERFIL IDEAL DE UM CANDIDATO: ACUSADO!!!


«A discussão seguia acalorada. O poder de argumentação era usado até ao limite. Não era de estranhar. Trava-se de uma discussão entre políticos. Tornava-se difícil escolherem o perfil do seu candidadto às próximas eleições. Havia opiniões para todos os gostos. Uns preferiam o chamado candidato institucional. Não acrescenta nada ao partido, não dá um único voto a mais, mas o risco é quase nulo. Também não se perde nenhum. Outros ainda optavam por argumentar que dever-se-ia apostar num líder jovem, o que era olhado com desconfiança por uma grande maioria que alertava para a sua inexperiência. Mas a maioria clara já tinha o seu perfil encontrado: tinha de ser um indivíduo que tivesse uma acusação criminal contra si. Havia um pequeno problema para aquele partido, naquela localidade: não havia ninguém que reunisse esse requisito. Estava tudo perdido. Não havia mesmo ninguém? Um só crimezinho? Então como podiam ganhar essas eleições? Para os mais intervenientes era um assunto que nem se discutia: o Paulo Pedroso não tinha sido levado em ombros quando saiu da prisão? E o Major? Que interessava o apito dourado. Qual apito dourado, qual carapuça. Aquilo até lhe tinha valido uns votitos. O homem apresentou-se como vítima e o povo vai logo atrás. E a Fátima Felgueiras então? A mulher até se tinha dado ao luxo de fugir para o Brasil, ficar lá todo aquele tempo a receber o ordenado e tinha tido a coragem de voltar para a sua terra a tempo da reeleição, ora, aquilo é que é uma mulher corajosa, dizia um outro. “não vás mais longe, disse um terceiro, então o Isaltino, coitado, confundiram a conta dele com a do sobrinho e queriam dar cabo da carreira do homem. Isso faz-se agora? Toda a gente sabe que um taxista na Suiça ganha muito mais do que um presidente de uma Câmara em Portugal”mania de se perseguir os políticos, concluiu.
A discussão não terminou sem que acabassem no Prof. Carmona Rodrigues. “Esse também é um homem de coragem”, dizia ainda um outro, “pena foi que tivesse permitido que os seus vereadores acusados pelo Ministério Público tivessem abdicado e ele próprio não tivesse feito o mesmo” “coitado do homem, vítima de uma cabala, é injusto que perca a Câmara de Lisboa, mesmo que se prove que ele é culpado”. Para finalizar a discussão, um outro militante dizia:”então se eles estavam a roubar, mas faziam bem ao povo, qual o mal? os outros não fazem o mesmo?”, questão felizmente respondida por um defensor de outro perfil e claramente mais esclarecido que disse: em primeiro lugar eles estão só acusados e não condenados, pelo que se deve aplicar o princípio “in dúbio pró reo”, em segundo lugar não se pode confundir todas as acusações, pois podemos ser acusados de crimes ocorridos no e devido ao exercício do nosso mandato e outros que nada tenham a ver com o nosso mandato, mas que necessariamente, no entender desse militante, os enfraqueciam em termos de legitimidade democrática, conforme teve oportunidade de explicar. A discussão não terminou, sem que alguém lembrasse o caso de Setúbal, onde alegadamente o anterior presidente foi convidado a renunciar antes da acusação contra si deduzida e a nova presidente não o foi. Dois pesos e duas medidas. Pelo menos o Marques Mendes sempre foi coerente, dignificando a classe política, concluiu. Era preciso decidir e, tendo ganho a corrente que defendia que um acusado era o ideal, lá escolheram um entre eles, combinando qual o crime que ele cometeria. Depois estaria pronto para ganhar essa Câmara».

Nota: esta história ficcionada visa alertar para uma situação que me preocupa e que, penso, está na origem de um recrudescimento da perda de popularidade dos políticos. Urge os partidos entenderem-se e tomarem medidas corajosas como a que o Dr. Marques Mendes tomou. Gostem ou não dele, não discuto isso, mas pelo menos tem o mérito de arriscar perder a maior, mais importante e simbólica Câmara do país – Lisboa, para não perder os seus valores, aquilo em que acredita, defende e pugna perante terceiros. Tiro-lhe o meu chapéu, e entendo que o PSD vai ganhar muito a longo-prazo, ainda que reconheça que politicamente é um erro incrível a curto-prazo, mas admiro aqueles que colocam os valores morais acima dos seus interesses particulares,.

Publicada hoje, dia 4 de Julho, no Jornal Digital "Setubal na Rede", cujo link está neste blogue, do lado direito.

4 comentários:

susana disse...

Pois é...sou trabalhadora da Câmara Municipal de Lisboa e filiada no PSD. Sempre admirei o Presidente Carmona Rodrigues, embora não tenha votado nele, pois a minha morada também é no Concelho do Seixal. Quem é que vai ganhar??? Não sei, mas creio que o PSD não será. A posição que o Dr. Marques mendes tomou, quanto a mim, foi de facto arriscada, mas sei que quando se assumem determinadas posições sociais, se deve tabelar o comportamento pela mesma "bitola", com todas as atitudes que se tomem.

Se quiser visite o meu blog, em que tento informar todos aqueles que se interessam pelo mundo da educação. Gostei deste blog e vou voltar.

www.artedesenvolvimento.blogspot.com

Paulo Edson Cunha disse...

Susana, obrigado pelo seu comentário e..espero que volte sempre. também visitarei o seu blogue, que me pareceu, numa visista muito rapida, bastante interesante e sobre uma área em que o concelho do Seixal muito precisava de desenvolvimento.
Sendo residente no Seixal, filiada no PSD e tendo a experiência profissional na área que tem, desde já lhe peço que se junte a nós nesta jornada de credibilizar o partido com posições construtivas, objectivas e que sirvam a população.
Obrigado

Unknown disse...

Artigos cada vez com mais qualidade, sem perder o humor e de leitura acessivel a qualquer cidadão."Lêr-te" é sempre um momento agradável e útil. Concordo plenamente com a posição tomada em Lisboa.

Anónimo disse...

O "AMBRÒSIO VOLTOU A SORRIR" está girissimo!