terça-feira, dezembro 03, 2013

Francisco Sá Carneiro - Uma homenagem Partido Social Democrata: 39 anos (+playlist)

Era de noite. Todos sabemos, no inverno escurece mais cedo. Eram também outros tempos. Tempos imemoriais em que as crianças saiam da escola e não se agarravam aos viedo-games, não tinham DisneyChanel, muito menos tinham computadores, PC´s, Tablets ou facebooks. Bricávamos à Sirumba, ao pião, aos carrinhos de rolamentos, feitos por nós próprios e ao bate-pé. A partir da hora do jantar era comum ouvirmos o nosso nome, ou do amigo vizinho para ir tomar banho, fazer os trabalhos de casa ou jantar. Era uma sinfonia de vozes de mães a chamarem-nos. Era um som agradavelmente familiar e deixava-nos reconfortados, felizes com o nosso espaço. Sentiamo-nos seguros. Naquela noite sentimos que algo de grave se passava. A televisão não estava a dar a emissão corrente. Já nem me lembro se eram os tempos aureos da telenovela "Gabriela" que parava literalmente o País, ou era o telejornal. Sim, desde a "Eurofestival da canção" aos "Jogos sem Fronteiras" tudo era visto em família, na sala, todos sentadinhos e expectantes, pois só havia uma televisão e a oferta resumia-se a RTP2 ou RTP1. Ainda me lembro quando deu o filme "Pato com Laranja". Que escândalo, meu Deus! A direcção de então da RTP foi demitida. O ministro teve a cabeça a prémio. Nunca cheguei a ver. Amaldiçoei-me por isso. Diziam que havia cenas ousadas. Era o delírio entre a populaça. Somos assim os Tugas, moralistas, mas todos queremos ver, aquilo de que falamos mal. E depois de ver, criticamos e pedimos consequências. Como dizia, nesse dia senti um estremecimento. Não por mim, mas pela cara da minha avó. "Meu Deus, que aconteceu?" perguntava ela. Preocupação na cara. Eram tempos difíceis. Depois de termos fugido de África, houve todo o processo de integração na sociedade, houve o PREC, houve o 25 de Novembro e, com Sá Carneiro, finalmente a democracia estava a dar os seus primeiros passos. Havia esperança no futuro, mas havia um passado muito presente. Teria sido um golpe de estado? um retrocesso eleitoral? uma tragédia? Uma tragédia era concerteza. Música clássica a interromper a emissão não augurava nada de Bom. Eis que de repente surge a notícia, aquela que menos queríamos ouvir - Sá carneiro morreu (http://www.youtube.com/watch?v=u99uJZ9zGT4). Eu não ouvi. Fui poupado. Todos sabíamos que a notícia não seria boa. À cautela fui mandado para o quarto. Mas ouvi choros e exclamações de dor, preocupação, tristeza. Eu já simpatizava com o partido. era muito pequeno para perceber, mas sempre ouvia a minha avó louvar Sá Carneiro. Sempre via a esperança nos olhos dos mais velhos quandop dele falavam. Até já tinha, muito orgulhosamente aliás, ajudado a pintar a cal a frase, "AD 80/84". E se as pessoas em quem eu confiava, confiavam em Sá Carneiro, então eu também confiava. As crianças são assim. Nesse dia dia decidi: quando for grande, vou ser do PSD. Por isso, tudo faço por honrar o legado do homem que deu esperança à minha família.

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