segunda-feira, setembro 27, 2010

Eu avisei (e não fui o único)... ou o "Nosso Ensaio sobre a Cegueira" I

Caros leitores deste blogue:

Alguns de vós, têm acompanhado este blogue desde o seu início. Outros, têm acompanhado os meus textos na imprensa regional, local e até nacional desde que escrevo, ou seja, bem antes de criar o Blogue.

São vocês então testemunhas privilegiadas do meu esforço por ser coerente, por vezes politicamente incorrecto, pelo menos para alguém que teoricamente aspira a ter relevo político, ainda que local, mas que ao invés  tem optado por dar sempre prevalência à sua opinião pessoal em detrimento do mero oportunismo político.

Por isso rio-me quando  vejo algumas pessoas dizer por exemplo que sou um oportunista quando apoio o líder A ou B, sendo certo que as minhas posições são sempre assumidas, no momento dos acontecimentos, sendo não raro assumir posições em favor de pessoas que por vezes estão em descrédito junto da opinião pública e, às vezes dentro do meu próprio partido. Ao lerem estas crónicas que selecionei, perceberão o que digo e verão que os acontecimentos confirmaram muitas posições aqui assumidas.

Esta semana, com o FMI à porta, com economistas da OCDE em Portugal a ensinarem o "B-A-BA" da economia, com o Governo completamente desgovernado no que às Finanças Públicas diz respeito, com o desemprego a galope, apesar dos números que artificialmente os tentam puxar para cima, com uma crise sem precedentes no país, vou recuperar textos escritos há muitos anos, onde eu (um "amador" nestas coisas de Finanças Públicas) já antevia, e anunciava o caos que agora está instalado.

Como não me considero um "iluminado", creio que só não viu quem não quis, ou como diz o nosso sábio povo "o maior cego é aquele que não quer ver".

Para começar um artigo já publicado  neste Blogue em 2008, mas pela primeira vez escrito e publicado num jornal local em 2004, ou seja, há seis (!!!) anos. Leia-o e adapte-o ao presente.

http://pauloedsonc.blogspot.com/2008/04/nossa-dama-de-ferro-verso-de-2008.html

(para confirmar o que digo, clique por favor no link) ou pode optar por ler o texto que a seguir copio:

"A Nossa "Dama de Ferro" - Versão de 2008

Em Janeiro de 2004, portanto há mais de quatro anos, estava o governo do Dr. Durão Barroso em pleno mandato e, emergia na altura uma figura que era quase "odiada" pela população portuguesa.


Era ela a Dra. Manuela Ferreira Leite e era a nossa Ministra das Finanças.

O que a fazia ser tão pouco estimada, mesmo entre os seus pares?

A resposta é simples? era rigorosa, colocava Portugal acima da sua popularidade, do seu partido ou mesmo do seu Governo.

A sua Obsessão pelo défice levou mesmo o então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, a proclamar aos quatro ventos que "Há mais vida para além do défice". Curiosamente, no Governo de Sócrates, que continuou essa doutrina (para mim correcta, no entanto sempre condenei este Governo porque foi precisamente eleito por se opor veementemente a essa política, que pelos vistos estava correcta) nunca mais ouvi nem o anterior P.R., nem o Governador do banco de Portugal, nem ninguém com responsabilidades e da área socialista condenar a política do governo quanto ao défice (e, repito, quanto a mim, nesse ponto concreto, concordo, no entanto apenas os condeno porque essa política tinha de ser acompanhada por uma diminuição da despesa pública, o que como sabem não ocorreu).

Como disse, mesmo entre o Governo de então e o partido a Dra. MFL era "persona non grata" para muitos.

Nesse período escrevi a crónica que a seguir vos deixo.

Quem a apoiou quando era mais difícil, não o ia agora deixar de fazer, no momento em que ela tenta resgatar a credibilidade política do meu partido.

Sei que é uma batalha dura, sei que os "populistas", demagogos e afins são mais bonitos, têm um discurso mais redondo, mais moderno, mas é disso que o PAÍS precisa?

A Dra. Manuela Ferreira Leite tem o meu (pessoal) apoio incondicional nestas eleições, embora também tenha muita simpatia pela candidatura do Dr. Pedro Passos Coelho e, até anteveja uma possível vitória sua.

Aqui fica o texto (não esquecer, escrito e publicado no extinto "notícias do Seixal"em janeiro de 2004).





A NOSSA “DAMA DE FERRO”  - Versão de 2004





Como a história nos ensinou, Portugal por norma chega 10 a 20 anos atrasado aos acontecimentos em relação aos outros países. É precisamente este o caso. Se os nossos amigos ingleses tiveram a sua dama de ferro há mais do que dez anos, também nós temos direito a ter a nossa. Todos já perceberam que estou a falar da nossa Ministra das Finanças.

Confesso que gosto da nossa ministra. Rectifico, gosto muito da nossa ministra! E quanto mais falam mal dela, maior a admiração que sinto por si, pela sua coerência, pela sua determinação e, mais importante de tudo, por aquilo que está a fazer por Portugal.

Seguramente que, neste momento, nem ela própria espera que alguém goste da sua política, pois, afinal de contas não é ela a responsável pelo “aperto” financeiro que todos nós estamos a viver? A resposta aparentemente é positiva, no entanto, com o devido respeito vos digo que estão redondamente enganados os que assim pensam. Não foi ela que nos pôs na situação de endividados em que estamos. Para aqueles que contraíram empréstimos e não têm como pagar, não foi ela que vos disse que podiam pedir empréstimos para tudo, desde a habitação, até ao mobiliário, automóvel, passando pelas férias e, conforme até foi amplamente difundido esta semana, para as bodas do casamento. Não foi ela que mandou as autarquias endividarem-se, como por exemplo a do Seixal. Essa foi uma opção de cada qual, sempre com o incitamento do Engº Guterres, para quem a riqueza do País se media pela taxa de ocupação do Algarve. Vê-se agora!!!

A ministra limitou-se a dizer-nos, não gastem mais porque simplesmente não vão ter como pagar. Produzam riqueza. Esse papel ingrato, coube-lhe a ela, pior seria que coubesse ao FMI como noutros tempos, ou ao banco central Europeu, se assim fosse, estaríamos todos a rezar para que nos tivesse aparecido uma qualquer “dama de ferro” que tivesse posto ordem neste País.

Imagine o caro leitor a situação clássica de uma família endividada há muitos anos. Foi recebendo os avisos do banco para liquidar as prestações em atraso e foi ignorando olimpicamente o seu teor. De seguida recebeu uma ou mais do departamento contencioso desse mesmo banco e também as ignorou. Mais tarde, recebeu uma citação de uma qualquer acção judicial de dívida. Aí já não pôde ignorar, porque o passo seguinte foi a condenação e numa acção executiva a penhora dos bens ou até mesmo da sua habitação. Situações como a que acabei de descrever infelizmente são colocadas diariamente aos advogados, aos bancos, aos tribunais, enfim, aos credores. Essa família infelizmente não teve uma Manuela Ferreira Leite que, em tempo útil lhe dissesse: parem, antes que percam tudo. Ora é isso que a ministra está a fazer ao nosso País e a sua acção é tanto mais admirada por mim, quanto ela se desvia do caminho fácil da demagogia em detrimento da sua imagem pessoal. Só no futuro lhe poderemos agradecer, quando compreendermos, TODOS, que alguém tinha que travar este despesismo louco em que estávamos mergulhados e que caminhávamos inevitavelmente para o abismo.

É caso para dizer que, mais vale tarde do que nunca e a nossa “dama de ferro” apareceu no momento certo, em que o País mais precisava da sua determinação.

Posted by Paulo Edson Cunha at 22:45:00

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