domingo, outubro 18, 2009

Revista "O Praticante"

A política tem destas coisas.
Nos últimos tempos, este blogue tem-se  alimentado quase exclusivamente da componente política.
Em virtude disso, alguns dos artigos de opinião que escrevo para revistas relativamente a outros temas são praticamente menorizados na "Revolta".
Ora, o artigo que hoje publico saíu no último número da revista "O Praticante" e foi feito a propósito dos 20 anos da conquista da primeira medalha de ouro olímpica que Portugal conquistou.
Devo referir que esta revista (está a ser ultimada a proxima edição) é um dos projectos onde me dá mais prazer participar. É uma revista amadora, que vive de publicidade, de distribuição gratuita, mas que divulga muito bem a prática desportiva, que tem uma excelente distribuição, que tem bastante quantidade e qualidade informativa e que se está aimplementar na sua áera com projectos bastante ambiciosos.
Recordo aqui o seu Blogue http://opraticante.bloguedesporto.com/ que vos convido a visitar.


Deixo-vos então o artigo, para vossa leitura e comentários, se o desejarem:




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Já não me lembro o que estava a ver. A escolha era muito mais fácil do que agora. RTP1 ou RTP2. E pronto. Não havia cá "Discovery Channel", "SportTv" ou "Travel Channel" ou canais 18. Um dia tivemos o filme "Pato com Laranja" e a direcção da RTP ia caindo, tais as reclamações.



Lembro-me de uma televisão pirata aqui para as bandas do Seixal. Nunca a vi. Também não sei se foi antes ou depois. Computador, era uma miragem. Vídeo, ou tinha aparecido há pouco em Portugal, ou estava para aparecer, mas seguramente eu não tinha ainda. Ainda se discutia se era a versão Beta ou VHS. O tempo impôs que prevalecesse o VHS, o que também não lhe valeu muito quando apareceu o DVD. É assim a evolução!


Dizia que lutei arduamente. Lutei com o sono. Lutei com o cansaço. Lutei com a ansiedade. O sono acabou por vencer. O sono vence sempre. De pouco me valeram os cafés tomados para me manter desperto. também convenhamos que estar às tantas da manhã a olhar para dezenas de homens a correr, não é a melhor forma de nos manter despertos. Ainda me lembro de estar cansado. De estar a suster a respiração cada vez que o nosso Lopes não aparecia na imagem. Houve um momento que houve uma avaria técnica, muito comum na altura. Depois adormeci. Não me lembro, claro. Apenas me lembro que acordei eufórico. Portugal que sempre era o vencedor moral e o vencido oficial, que nos tinha iludido nesse mesmo ano no Europeu de Futebol, em França, com "Os Patrícios" mas que “morrera na praia” acabando em terceiro lugar, que tinha o Mamede, aquele que era o melhor do mundo, menos quando tinha de o provar na pista, em plenos campeonatos, que tinha o maior ciclista do mundo, um inigualável Joaquim Agostinho, mas que algo fez com que nunca ganhasse o tour, que estava às portas da CEE, epopeia glosada numa música dos “Portugal do comércio”, com o tema “Portugal na CEE, algo que só aconteceria 2 anos mais tarde, Portugal que nunca tinha ganho uma medalha de ouro Olímpica, mas que estava cheio de quase medalhados, que tinha sempre um favorito no Euro festival e depois era INJUSTAMENTE classificado na metade final da tabela, em noite de angustia colectiva nacional, e eu tive a ousadia de adormecer precisamente quando algo me dizia que era esse o dia.


Não, não sou nenhum predestinado. No fundo acreditava tanto naquela medalha, como tinha acreditado na da Rosa Mota (que foi Prata), da do António leitão (que foi bronze) ou de qualquer um que me fizesse sonhar. No fundo acreditava eu e um País inteiro. No fundo, no fundo, nós queríamos tanto que acreditávamos sempre que era possível, embora soubéssemos que nunca seria. No fundo nessa noite ninguém dormiu. Fomos dormitando.


Mas algo nos dizia que esse era o dia. O homem não era um Homem normal. O homem tinha sido atropelado aos 38 minutos do seu treino apenas 15 dias antes da epopeia. O homem, queria tanto perseguir o seu sonho que foi atropelado, levantou-se e continuou o seu treino. Hospital? Tratamentos? Isso é para os humanos, decerto pensou o nosso herói.


E, provavelmente 38 minutos (número fatal, já que ele tinha 38 anos, foi atropelado aos 38 minutos do treino e isolou-se aos 38 kms da corrida) depois de ter adormecido, acordei sobressaltado com o hino, mas não.Não era ainda nesse momento que ouvia o hino Português. Estava a sonhar. Mais uma desilusão. Abro os olhos ensonado. Vejo uma imagem do pelotão, não vejo o Lopes. Decerto já havia desistido. Estava habituado. O povo estava habituado. Sofria, ansiava, e desiludia-se com o destino. Já estava prestes a voltar a adormecer, resignado com o nosso fado quando eis senão quando percebo que a imagem era do pelotão. Mostram-me o nosso Lopes. Esse mesmo.


Esfrego os olhos. Melhor, arregalo os olhos e vejo que não estava a fazer confusão. Suspiro. Reconfirmo. Não aguentaria nova desilusão depois de já estar conformado.


Não, era mesmo o Carlos Lopes. Olho melhor. Km 38. O nosso herói fugia ao pelotão. Estilo felino. Corpo magro. Determinação. Começo a suar. Penso que arfava cansado. Sinto o coração a sobressaltar, literalmente aos pulos. Foram 4 km que eu e um País inteiro corremos juntos. A chegada foi heróica. Ouviam-se buzinas na rua. Gritos. Pessoas nas janelas, com panelas a fazer barulho. O País rejubila. Sorrisos. Arrepios. Já vivi muitas coisas boas na vida. Uma delas foi essa. Durante momentos (muitos) este Homem resgatou o orgulho de um Povo. Nunca me tinha sentido tão orgulhoso de ser Português. Como todos os Portugueses, chorei no hastear da bandeira, no pódium. Também eu tinha ganho aquela medalha. Está guardada no meu coração. Obrigado.

5 comentários:

Anónimo disse...

Paulo, muito bonito.

Escrito com alma, como percebo que você tem.

isso é que faz de si o grande homem que é.

Não mude. Não deixe que a política o desvirtue

Anónimo disse...

Realizaram-se eleições para os bombeiros da Amora. Os elementos que faziam parte da Lista B sabendo as irregularidades que cometeram nem sequer apresentaram lista. Ricardo Ribeiro e amigos tiveram medo de uma derrota histórica e nem se candidataram.
A lista da Lucia ganhou com 267 votos. Com esta vitória a normalidade vai voltar aos Bombeirs da Amora que se viram livres dos oportunistas.
O PS e a APA são pois os grandes derrotados, pois os sócios demonstraram que não alinham com projectos alicerçados em modelos ultrapassados.

Clara disse...

Um artigo lindo! Quem te conhece acredita nesta emoção, na emoção que sentes e na forma como a consegues transcrever para o papel. Como consegues ser a voz de muita gente.
Um homem sensivel é sempre um politico sensivel, sensivel às injustiças, sensivel aos problemas sociais, sensivel à causa comum.
Não desistas nunca.

Anónimo disse...

O resultado das eleições dos Bombeiros da Amora foi uma grande vitória para o PCP, pois o PS e a APA perderam o seu ultimo bastião na freguesia da Amora.
Para além disso também prova que em Março houve uns meninos que andaram pela blogosfera a fazer a festa antes do tempo, pois mandaram foguetes que o PCP havia sido derrotado nas eleições para os Bombeiros da Amora. Ora não só o PCP não concorreu a nenhumas eleições para os Bombeiros da Amora, como se veio a verificar que a lista do PS e da APA havia ganho de forma fraudulenta, motivo pelo qual foi a posse dos elementos dessa lista suspensa pelo Tribunal. Anulado o acto eleitoral fraudulento, em eleições que decorreram sem incidentes verificou-se a vitória da lista independente e a derrota daqueles que queriam continuar a partidarizar os bombeiros, ou seja o PS e a APA. De tudo isto resulta que os sócios dos bombeiros da Amora estão de parabéns pois correram com os oportunistas do PS e da APA.
A APA passa a ser quase uma figura de museu que não tem qualquer influência na Amora, pois até o Fernando Rocha da SFOA nas autárquicas apoiou o PCP.
O PCP mesmo não tendo concorrido é também o grande vencedor pois viu os seus adversários a serem claramente derrotados pelos sócios dos bombeiros da Amora, bem como demonstrou que não pretende partidarizar as instituições do concelho, deixando que os sócios escolham aqueles que melhor podem conduzir os destinos das instituições, independentemente da cor partidária.

O Pato Bravo disse...

É de mim ou a Ornitologia no Seixal esta cada vez mais na moda?

Veja tudo no novo blog que defende o Seixal dos oportunistas que tentam lutar contra o Concelho de Abril... Aqui