sexta-feira, novembro 16, 2007

“No passa Nada”



Certo dia, há algum tempo atrás, o meu filho pediu-me para lhe ler uma história antes de adormecer, e que ficasse um pouco com ele. Eram cerca das 21h00 e tinha um jogo de futebol marcado para as 22h30. Como tinha tempo acedi ao seu pedido. Entre a leitura da história, a muita conversa, fez-me prometer que não saía do quarto enquanto não adormecesse, ao que acedi igualmente. Com o aproximar da hora do meu jogo e percebendo que ele já estava quase a dormir saí sorrateiramente, embora sem sucesso, porque ele logo me chamou, obrigando-me a dizer-lhe que ia apenas à casa de banho, pois acreditava que ele continuaria a dormir. Assim o fiz, mas arrependo-me até hoje, pois ele percebeu que foi enganado e ainda hoje quando lhe custa a acreditar numa coisa pergunta-me se não o estou a enganar como daquela vez...
Vem isto a propósito do Sr. Eng. José Sócrates. Cada vez que o vejo, lembro-me das mentiras (não tão inocentes e inconsequentes quanto a minha) que proferiu ao nosso bom povo, apenas estranho que as pessoas tenham ou estejam a levar tanto tempo a perceberem que estão a ser enganadas.
Não, não estou a falar da sua anedótica licenciatura, que se não implicasse uma questão de carácter, diria que era do seu foro privado.
Também não estou a falar das políticas que ele defendia enquanto oposição e que agora faz exactamente o contrário (veja-se o Orçamento de Estado para 2008, em discussão). Isso infelizmente é um (mau) hábito de muitos políticos. Mas já quando antevejo o anúncio do aumento das SCUTS (Estradas sem portagens) fico indignado, como se pode enganar o Zé-povinho de uma forma tão descarada. Então não foi este homem que capitalizou votos atrás de votos quando se opôs à iniciativa do Governo de então (PSD/CDS) de taxarem as SCUTS? Sejamos sérios, nós não somos um país rico de recursos ilimitados e em situações como essa qualquer aprendiz de governante sabe que o melhor para o país é optar pelo pagamento das SCUTS pelos seus utilizadores, uma vez que se esse dinheiro não sair do utilizador (conceito de utilizador-pagador) tem necessariamente de sair do orçamento de Estado. Porque há um contrato a ter de ser cumprido com a concessionária.
Onde está a habilidade? Um governante sério defende a primeira solução, mas muito mais impopular, mas um demagogo, uma pessoa pouco séria defende esta última solução, na medida em que todo o dinheiro que sai do Orçamento de Estado, no fundo, no fundo, ninguém sofre directamente, pois não nos vão directamente à carteira. Mas como o dinheiro (riqueza) gerado pelo País não chega para tudo, então ou aumentamos os impostos, o que o Sócrates tem feito com mestria, ou então diminuímos a despesa pública sobretudo a despesa corrente, tal como mandam os bons manuais de finanças públicas (o que este Governo não tem conseguido, apesar de propagandear o contrário).
E digo mais, não tem conseguido nem o poderia nunca conseguir, conforme se pode ver pelas inúmeras irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas a cada uma das auditorias que faz, sendo a última conhecida à gestão da “Estradas de Portugal” cujo relatório que reporta aos anos de 2005/6, já da tutela do ministro Mário Lino – também conhecido por “O Desertificador” (o tal do deserto), classifica de DESASTRE FINANCEIRO, com compromissos de ajuste directo da ordem dos 2,5 mil milhões de euros.
Bem vistas as coisas e com a ligeireza com que este governo trata dos dinheiros públicos estas derrapagens financeiras resolvem-se com um aumentozinho de um qualquer imposto e todos nós pagamos esse buraco. Pena é que quando aparecer um político a dizer que as SCUTS têm de ser pagas pelo utilizador, e como já estamos em clima de pré-campanha, não apareça um outro demagogo a prometer SCUTS de borla, ainda que a borla, neste caso, como em todos os outros, seja paga por todos nós.
Por fim, e numa semana marcada pelo trágico acidente da A23, onde perderam a vida mais de duas dezenas de estudantes universitárias, não jovens universitários, mas sim da terceira idade, quero aqui voltar a falar-vos da Universidade Aberta do Seixal, salvo seja, porque embora a Câmara tenha disponibilizado o terreno e o governo anterior (do PSD e PP) tenha criado todas as condições para a sua abertura, conforme já foi nestas páginas explicado, face ao impasse actual aproveitei uma reunião com o Sr. Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Prof. Doutor Manuel Heitor, no passado dia 31 de Outubro, no âmbito da Comissão Permanente de Educação, Cultura, Desporto, Juventude, Ciência e Tecnologia da Área Metropolitana de Lisboa, da qual faço parte, para questionar directamente tão digníssimo membro sobre o ponto da situação, ao que fui confrontado com uma seca resposta de “não passa”. O Sr. Secretário de Estado atrapalhado com a secura da resposta adiantada, foi logo acrescentando que a Universidade Aberta tinha de se adaptar ao novo regime jurídico das universidades. Ponto final parágrafo. Sr. Presidente da Câmara, já foi informado disto? Se não foi, informe-se. Estarei ao seu lado nessa luta. Pois, mas a população merece um esclarecimento!
Publicado hoje, dia 16 Novembro, no jornal Digital "Setúbal na Rede"

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