O texto que se segue, foi publicado no "Jornal do Seixal" do último sábado, dia 25 de Agosto:
«De repente e sem que nada o fizesse prever instalou-se o pânico naquela família suburbana de Miratejo, que fruto de um despedimento recente dos membros activos da família, da fábrica “Alcoa”, viviam dos escassos rendimentos provenientes do subsídio de desemprego, para pagarem todas as despesas, suas e dos seus dois filhos.
A febre do mais novo não baixava e depois de telefonarem para a linha “trim-trim”, foram encaminhados para o SAP. Até há 10 minutos atrás, na sua mente bastaria atravessarem a rua e em 5 minutos se punham nas instalações (muito boas, por sinal), do Centro de Saúdo do Moinho de Maré, mas de repente lembram-se quase simultaneamente que o Serviço de Atendimento Permanente que antes funcionava até à meia-noite, agora estava encerrado por decisão deste Governo que se diz socialista. O que fazer? Não tinham carro, nem dinheiro para o táxi, mesmo os transportes sairiam caríssimos, para além de não terem ligação entre si, de os horários não estarem compatibilizados e de não ser curial levar uma criança a arder em febre em transportes públicos. E outra decisão se impunha tomar: ir ao hospital “Garcia de Orta” ou ao Centro de Saúde da Amora, único Centro de Saúde com Serviço de Atendimento Permanente, sendo certo que se calhar até era melhor ir directamente ao Garcia de Orta, mas como na “Linha Trim-Trim” os tinham mandado primeiro ao centro de Saúde...o que fazer? Talvez ligar para os bombeiros ou para o Hospital, mas não se tratando de uma urgência, eles certamente não viriam, ou cobrariam pelo serviço(o custo das ambulâncias - 35€ das Paivas ao Garcia da Orta), o que ia dar ao mesmo do que ir de táxi.
Droga de vida pensaram com o suor a escorrer-lhes do rosto, face à impotência demonstrada. Ainda tiveram a clareza de espírito de pensarem que há pessoas em pior situação, desde idosos a viverem sozinhos, deficientes motores, etc, a quem esta decisão traria certamente mais e intransponíveis obstáculos para ultrapassar.
Para onde caminhamos, perguntaram em uníssono. Logo hoje que tinham acabado de ler que um doente diabético e cardíaco tinha estado uma hora à espera de uma ambulância em Faro e que as autoridades justificaram o atraso com o facto de Faro só ter duas ambulâncias. Em época de férias? Com os turistas (portugueses e estrangeiros)?
De que serve fazermos grandes promoções em investimentos megalómanos como o que se faz nas diversas áreas se depois não se cura de cuidar as condições mínimas e encerram-se escolas, hospitais e centros de saúde?
Esta é uma história ficcionada, mas pode muito bem ter ocorrido, ou vir a ocorrer, conforme farão justiça de reconhecer.
É sempre a mesma queixa? Pois é, mas os cidadãos têm o direito de se queixar sempre do mesmo, tanto mais que as queixas renovam-se a cada novo encerramento o que faz supor que nunca são ouvidas. Foi o que aconteceu com os recentes encerramentos dos S.A.P.´s do Moinho de Maré e do Seixal, mesmo sabendo que o pressuposto para o encerramento era a criação de todas as Unidades de Saúde Familiar previstas, o que ainda não está nem metade cumprido, logo a maioria dos nossos munícipes não tem ainda médico de família.Senhor Ministro, sei que num gesto, que espero não seja de pura propaganda política, se dignou ouvir o Sr. Presidente da Câmara Municipal do Seixal (como representante da população) e das Associações de Utentes da Saúde. Espero que tenha registado que está a tomar decisões para esta família, para a dos leitores, para todos nós, que somos cerca de 165.000 habitantes. Não se pode decidir contra as populações. Somos cidadãos activos, que pagamos impostos, que trabalhamos e que, muitos de nós (cruzes canhoto) até votaram no seu partido. Prove-nos que não partilha da imagem do deserto avançada pelo seu colega de governo e curiosamente nunca criticada por nenhum membro do Governo. Porque sou daqueles que acredita (cada vez menos) que este Governo até consegue fazer coisas positivas, emendar erros de palmatória, como parece que vai acontecer em relação à construção do aeroporto da OTA, estou certo que depois de ter recolhido os dados que lhe foram entregues na última reunião, vai analisá-los com toda a seriedade e vai revogar a sua decisão. Da minha parte apenas lhe prometo que se o fizer, na próxima crónica, cá estarei para lhe elogiar a decisão tomada.»