Adaptei um texto (conto) que escrevi que agora vos apresento.
Não façam exercícios especulativos. É pura ficção.
Boa leitura e boa semana
CONTOS DE FIM-DE-SEMANA : Anatomia de um ”quase golpe”
Eram cerca das 2 da manhã. O ambiente é o normal. Um porteiro pede € 5,00. Dá para duas cervejas ou uma bebida espirituosa. Provavelmente marada, digo eu, que sou o autor desta história.
O ambiente estava murcho. Faixa etária elevada para os padrões do nosso Anastácio. Comenta isso com o amigo. Este sossega-o. Ainda é cedo. “carne mais fresca” não tardará. Assegura.
Uma imperial. Acompanha-se a música. Estuda-se o ambiente. Alguns solteiros, almas solitárias, com olhar matador. Escolhem locais estratégicos, onde focar as suas presas.
O nosso Anastácio, está out de tudo isso. Pensa na sua vida. Curte a música. Dança compassada e lentamente pensando em tudo. Não está ali para caçar. Quer divertir-se. Cansa-o esse jogo do “gato e do rato”. Mas o jogo é mais forte do que ele. Ele é um sedutor. Tem de seduzir, mesmo quando não o quer fazer.
Com a abnegação própria de quem vai cumprir a sua obrigação, qual polícia que inicia o “giro”, Anastácio procura-a. Há-de encontrar. Não sabe o que quer. Quem quer, nem sequer para que quer, mas sabe que quer.
A pista vai enchendo. O seu amigo não falha. A “carne fresca” chega. Misturam-se odores. Hálito carregado a álcool, perfume intenso e sedutor. Tabaco, naquela tamanha mistura de fragâncias tão característica dos espaços de diversão.
De repente repara melhor. Há um casal jovem, que o observa desde que ele chegou. Ainda a pista estava vazia. De facto são os mais novos e mais bem parecidos. Talvez por serem um casal, Anastácio nem havia fixado bem. Um olhar furtivo. Outro olhar. Observador. De facto ela tem sex-appeal. Calças de ganga. Camisa branca. Dança com uma cerveja na mão. Olhar correspondido. Coincidência pensou. A distância entre eles era considerável. O fumo e os corpos das outras pessoas, quais figurantes, obrigam-nos a um zigzaguear constante na procurava desse olhar. Já não furtivo..
Anastácio comentou com o amigo sobre a presença do casal e, sobre o facto de estranhamente lhe ter escapado aquela “miragem”. O amigo referiu que estava a observá-los e não lhe parecia que fossem namorados. Talvez irmãos. Estava lançado o desafio.
Anastácio decide certificar-se se ela o observava a ele, ou era apenas coincidência de ambos estarem virados um para o outro embora em lados opostos da pista. Um olhar “preso” um no outro. Um sorriso. O parceiro dela a observar. Atrapalhação total. Há que evitar problemas, mas a dúvida instala-se. Novo olhar de relance, quase simultâneo com o dela. Ligeiro sorriso.
Ela dá um forte indicador, mexe nos cabelos, alisa-os. Olham-se. Observam-se. Será? E ele? Namorado? Comentam algo um para o outro. Riem-se os dois. Estarão a gozar com ele?
O acompanhante vai buscar mais duas cervejas. Cruza-se com o Anastácio, que comprometido desvia o olhar. Ele sorri. Está “por cima”. O que se está a passar?
As trocas de olhar entre a jovem e Anastácio intensificam-se. A atracção é mútua. Já nada se interpõe entre os seus olhos. Nada não é bem assim, uma rapaiga lembra-se de dançar quase em cima do Anastácio. É engraçada, porém Anastácio nem repara. Ela dança com um gordo que tenta desesperadamente chamar-lhe a atenção. Ela cola o seu corpo a Anastácio. Meneia o cabelo e as ancas. Ele cheira-lhe o champô e até o perfume, tal a proximidade quando ela se deixa descair. Anastácio, não é que não esteja a gostar, mas naquele momento as suas prioridades são outras. Afasta-a. Afasta-se dela. Ela em cima dele, mais o raio do gordo tapam-lhe a visão. Escolhe outro angulo. Tenta escapar ao ângulo de observação do acompanhante. Não consegue. O acompanhante faz questão de continuar a observá-los. Estranho. Ela, porém, continua a olhá-lo. Agora dança com um sorriso aberto que permite ver à distância uns lindos e brancos dentes.
Anastácio decide afastar-se. Procura outro lado da pista. Não quer confusões e há um acompanhante pelo meio. Muda de local e dança de costas. Tenta esquecer a sua imagem. Fica assim um pouco. Bebe também ele outra cerveja. Geladinha. Para arrefecer os ânimos. Tenta concentrar-se na música. Recordar-se de outras situações.
De repente, tem-na à frente. Foi ele que a procurou? Foi ela? Foi o destino? O que importa isso agora? Eis que ela está sozinha. Anastácio não avança. Falta saber do acompanhante. Dançam assim, um para o outro. Tudo o resto deixa de existir. Olhos nos olhos, á distância de um click. Conseguem cheirar o odor um do outro. Os corpos tocam-se, primeiro ao de leve, depois despudoradamente. Ele não a beija. Não a quer beijar. O beijo é apenas um beijo. Assim a magia dura a noite toda. O acompanhante reaparece, quando Anastácio está quase a entregar os pontos. O desejo estava ao rubro. Anastácio afasta-se. O acompanhante imbuído por um novo alento começa a tentar algo. Percebe-se que não namoram. Ela, com o acompanhante no meio dos dois, desafia a gravidade e mantém os olhos fixos em Anastácio. Como um íman. Riem-se um para o outro. Anastácio desfruta do momento. Sem uma palavra, sem um beijo, ele consumiu-a. Consumiu a sua alma.
De repente a música pára. Hora de encerrar. Cada um para o seu lado. Dever cumprido. Uma dúvida persiste na cabeça Anastácio : Que raio era o acompanhante: Amigo (pretendente), namorado ou irmão?
O que perdura na mente de Anastácio? A garantia de uma insónia...
11 comentários:
Paulo,
A tua capacidade de escrever é de facto extraordinária. É nesessária uma grande capacidade para conseguir passar para o papel emoções, sensações, até aromas, de forma a colocar o escritor no local da narrativa.
Clara...já a sua é lastimável: "NESESSÁRIA"!?!?!?
Espero que esta Clara não seja a Clara Carneiro, caso contrário ia rir-me bastante.
Os eventos nascem por acaso, mas podem ter um valor importante. Cada encontro pode ser uma solução definitiva para alguns dos nosos receios, medos e inseguranças. Principalmente se encontramos alguém com uma imagem que habita em nós, como um sonho ou um mito que se materializa.
O encontro é uma materialização de uma ideia e quando acontece, por si só, tem um grande valor.
Diante do encontro precisamos viver a magia do momento, observar o "milagre" que acontece e que nós mesmos, talvez, involuntariamente determinamos.
Após um encontro significativo poderá surgir nova criatividade, novos amores, novos interesses.
Como diz J.L.Moreno – “Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus;
E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus;
Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus."
Um olhar poderá mesmo valer por mil palavras...
"Insónias"
1 da manhã
Deito-me, viro-me
Reviro-me, tapo-me
Descubro, penso
Repenso, tenso
Na madrugada fria em insónia profunda
Preciso dormir, pois amanhã é 2ª
Procuro, sem exito, abster-me do mundo
O pensamento parece cada vez mais profundo
2 da manhã
fumo um cigarro, observo
enervo-me, idealizo
Realizo, discordo
Recordo, acordo
Não há momento melhor do que a noite para analisar a vida, um turbilhão de ideias perpetua-se
Já cansada, a cabeça sem descanso
Resolvo levantar-me, pegar num lápis e numa borracha
3 da manhã
Desenho, escrevo
Descrevo, rabisco
Risco, misturo
Procuro, escuro
Não aguento, paro
Reparo, deito-me
Sem jeito, tapo-me
Viro-me
Reviro-me, aqueço-me
Tento, não desisto
Insisto, respiro
Expiro, trago
E por fim apago
Paulinho tu és demais. Por acaso não seria melhor encerrar esta xafarica?
Tu já tens o tacho, o que queres mais?
qual sua posição, na intenção do PSD em destabilizar o país com a aprovação da lei das finanças regionais?
Magda, sabe porque não encerro esta "xafarica"(como lhe chama)?
porque escrevo para mim, para os meus amigos e para quem quer ler. Já lhe passou pela cabeça não visitar esta "xafarica"?
Passar, passou, mas não era a mesma coisa.
Olhe, como sei que não resiste, vá voltando ( e sem a consciência pesada)...
Francisco, se perguntasse de uma forma mais séria, até lhe responderia que não estou 100% de acordo com a posição do PSD, mas como apenas veio provocar, fique com o meu silêncio sobre essa questão (assim até posso ter um "tacho" no governo...lol)...
SÁBADO, DIA 06 DE FEVEREIRO PELAS 14H
ASSEMBLEIA ASSOCIAÇÃO AMIGOS PINHAL GENERAL
www.viverpinhaldogeneral.blogspot.com
Paulinho respondestes e muito bem á questão da xafarica. Eu respeito a tua decisão, embora não concorde com a mesma.
Ficou por esclarecer a questão da panela, desculpa, do tacho.
Qual é a tua opinião?
Magdazinha,
A sua definição de democracia está um pouco distorcida, sabia?
Então a menina não sabe que fui eleito democraticamente pela população do Seixal e que o pelouro foi aceite após convite do Sr. Presidente da Câmara (conforme determina a lei) e com a concordância do meu partido, quer da comissão política, quer em sede de Assembleia de Secção (que nem era obrigatória, mas que fiz questão de assegurar)?
Por haver pessoas como a menina é que o nosso País não vai para a frente. Enfim...
Olhe, um excelente fim-de-semana e, tente descontrair (faz bem à azia).
Permita-me a liberdade de lhe endereçar um bjinho por cumprimento
Seguramente namorado... :)
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